O Dever de Casa.
Pedro Zemer.
Todos os dias era a mesma ladainha: Quem vai ensinar o dever de casa para a Manuelinha?Ela tem só nove anos.É uma menina doce e indefesa diante de tantos afazeres.Alguém precisa guiá-la pelas sendas do conhecimento, sem que isso se torne uma coisa traumática para a criança.Alguém precisa tomar para si a responsabilidade de educá-la, de dar as ferramentas primevas da critica epistemológica e propiciar-lhe a educação que lhe privilegie.A batuta está vaga, porem ninguém quer assumir a orquestra.
A pequena Manuelinha está sentada, triste.Olhando para seu caderno.Ele parece um cavalo grande demais para que ela possa montar.Pobre criança carente de direcionamento.O dever de casa é sua ‘’pedra de roseta’’, e sua professora deseja sem duvida confundir-lhe com hieróglifos.Mas como ela poderá vencer esse desafio?
Alguem pensou nisso.Sua avó pediu para que seu primo de 17 anos, Alberto, ensine a menina.Ela está contente.O dever de casa é simples, mas Alberto está irritado por não poder ficar o dia todo no quarto escutando The Cure e pensando na sua própria morte.Alberto, como muitos da sua idade, é depressivo e se interessa pela cultura gótica.Ele não assusta Manuelinha por que ela pensa que o primo é um dos Adams.Ela o acha engraçado.
_ Escuta Manuela, o dever é simples: você deve procurar no jornal palavras com mais de três silabas e em seguida formar frases. – diz o primo sendo bastante enfático.
_ Sim, mas onde está o jornal? – Pergunta Manuela, interessadíssima.
O seu primo lhe dá o Caderno Policial.As manchetes são negras.Elas escorrem sangue, as fotos são chocantes.Para ele o apelo é inevitável.Passa mão na tesoura rosinha da Hello Kitty da prima e corta todas as palavras mais interessantes.Ele se empolga fazendo isso e em breve ela passa a ser mera coadjuvante na obra que ela deveria estar assinando.Sua participação deveria se restringir apenas a colar no seu caderno as palavras na ordem que elas são indicadas.Ela não conhece nenhuma daquelas enormes palavras, mas fica encantada com os olhos brilhantes do primo.Ele chega a morder a língua de entusiasmo.
No outro dia, Manuela mal se contem de alegria. Tem certeza que é uma criança especial. Com a orientação do seu primo, seu dever deve ser o mais bem executado em sua classe.Assim que sua professora pronuncia as palavras mágicas: quem será o primeiro a dizer as frases do dever de casa? A menina levanta suas duas mãos e de longe todos reconhecem que ela merece ser a primeira.A professora anui com a cabeça e a menina começa a ler desajeitada:
A crueldade do assassinato impressionou A policia.O Pedreiro estuprou sua filhinha de 10 anos, em seguida esfaqueou a menina e não satisfeito cozinhou suas entranhas e comeu, guardando as partes restantes na geladeira para o dia seguinte.
Manuelinha terminou de ler e sorriu.Sua professora estava pálida.
Por dentro das paredes
Há 11 anos
De fato era um jornal super bem sangreto, como as noticias de todos os dias. Mas como vc colocou, foi um caderno policial (era o de se esperar.
ResponderExcluirAmbos foram vitimas do sencionalismo. Talvez o primo de Manuela nao processou as palavras de forma coerente. Talvez foram as unicas palavras q ele pode encontrar no horrivel caderno policial. O fato, é que, é assim mesmo que acontece no dia a dia. As noticias sao informandas sem pensar no publico que receberá a noticia. Então jovens, crianças, e quaisquer outro interessado pela carnal, torna-se acessivel a tragica noticia.
seu texto me deixou impressionado com relevancia que vc expoem sua ideologia contra a naustogia pedofelia. muitobom.