segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Quem conta um conto, aumenta um ponto.

O Dever de Casa.
Pedro Zemer.

Todos os dias era a mesma ladainha: Quem vai ensinar o dever de casa para a Manuelinha?Ela tem só nove anos.É uma menina doce e indefesa diante de tantos afazeres.Alguém precisa guiá-la pelas sendas do conhecimento, sem que isso se torne uma coisa traumática para a criança.Alguém precisa tomar para si a responsabilidade de educá-la, de dar as ferramentas primevas da critica epistemológica e propiciar-lhe a educação que lhe privilegie.A batuta está vaga, porem ninguém quer assumir a orquestra.
A pequena Manuelinha está sentada, triste.Olhando para seu caderno.Ele parece um cavalo grande demais para que ela possa montar.Pobre criança carente de direcionamento.O dever de casa é sua ‘’pedra de roseta’’, e sua professora deseja sem duvida confundir-lhe com hieróglifos.Mas como ela poderá vencer esse desafio?
Alguem pensou nisso.Sua avó pediu para que seu primo de 17 anos, Alberto, ensine a menina.Ela está contente.O dever de casa é simples, mas Alberto está irritado por não poder ficar o dia todo no quarto escutando The Cure e pensando na sua própria morte.Alberto, como muitos da sua idade, é depressivo e se interessa pela cultura gótica.Ele não assusta Manuelinha por que ela pensa que o primo é um dos Adams.Ela o acha engraçado.
_ Escuta Manuela, o dever é simples: você deve procurar no jornal palavras com mais de três silabas e em seguida formar frases. – diz o primo sendo bastante enfático.
_ Sim, mas onde está o jornal? – Pergunta Manuela, interessadíssima.
O seu primo lhe dá o Caderno Policial.As manchetes são negras.Elas escorrem sangue, as fotos são chocantes.Para ele o apelo é inevitável.Passa mão na tesoura rosinha da Hello Kitty da prima e corta todas as palavras mais interessantes.Ele se empolga fazendo isso e em breve ela passa a ser mera coadjuvante na obra que ela deveria estar assinando.Sua participação deveria se restringir apenas a colar no seu caderno as palavras na ordem que elas são indicadas.Ela não conhece nenhuma daquelas enormes palavras, mas fica encantada com os olhos brilhantes do primo.Ele chega a morder a língua de entusiasmo.
No outro dia, Manuela mal se contem de alegria. Tem certeza que é uma criança especial. Com a orientação do seu primo, seu dever deve ser o mais bem executado em sua classe.Assim que sua professora pronuncia as palavras mágicas: quem será o primeiro a dizer as frases do dever de casa? A menina levanta suas duas mãos e de longe todos reconhecem que ela merece ser a primeira.A professora anui com a cabeça e a menina começa a ler desajeitada:

A crueldade do assassinato impressionou A policia.O Pedreiro estuprou sua filhinha de 10 anos, em seguida esfaqueou a menina e não satisfeito cozinhou suas entranhas e comeu, guardando as partes restantes na geladeira para o dia seguinte.

Manuelinha terminou de ler e sorriu.Sua professora estava pálida.

Um comentário:

  1. De fato era um jornal super bem sangreto, como as noticias de todos os dias. Mas como vc colocou, foi um caderno policial (era o de se esperar.
    Ambos foram vitimas do sencionalismo. Talvez o primo de Manuela nao processou as palavras de forma coerente. Talvez foram as unicas palavras q ele pode encontrar no horrivel caderno policial. O fato, é que, é assim mesmo que acontece no dia a dia. As noticias sao informandas sem pensar no publico que receberá a noticia. Então jovens, crianças, e quaisquer outro interessado pela carnal, torna-se acessivel a tragica noticia.
    seu texto me deixou impressionado com relevancia que vc expoem sua ideologia contra a naustogia pedofelia. muitobom.

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Buraquinhos quentinhos