Pilhas e pilhas de detritos se acumulam no meu quarto.Esqueletos de projetos, de planos de autodesenvolvimento deixados de lado por preguiça de ir em frente.Ossos tristes que pretendia mostrar á alguém em uma época de verdade.Tesouros imaginados que se convertem em sucatas e cicatrizes no canto empoeirado.Eu viro a cara do mar de lembranças e fracassos e olho pra minha ilha: O teto do meu quarto.A única parte que eu não entendo, nem projetei.O teto do meu quarto é um afresco de Michelangelo.Um afresco surrealista onde eu vejo sombras, luzes, tons e texturas em movimento.Eu passo horas tentando decifrar o que diz o teto do meu quarto, mas as palavras saem do lugar e correm dos meus pensamentos.Em segundos eu esqueço tudo que pensei ter decifrado.O teto do meu quarto é supremo.Quando eu morrer, e chegar naquela hora de ver ‘’o filme da minha vida’’, é o teto do meu quarto que eu vou ver.E quando os querubins e serafins me chamarem para prestar conta dos meus atos, será o teto do meu quarto minha testemunha: fiz o melhor que eu podia nas piores condições.Ou talvez, não fossem as piores mas foram as condições que eu tinha.Cada homem conforme seu caminho e contando com os seus próprios instrumentos! – eu direi á Gabriel, Guerreiro do Céu.Ele me absolverá.Mas os Tronos e as Potestades se levantarão e rasgarão as suas vestes e dirão: É só isso?é só isso o que ele podia fazer?E vão virar a cara.Três mil anjos do céu vão virar a cara pra mim e eu ficarei de joelhos, em posição fetal.Ouvirei então a voz de Metatron triunfante, atrás de mim: Vire-se!ELE decidirá.Eu olharei a face de Deus, e essa também será o teto do meu quarto.Mas diferentemente de agora, tudo estará claro como uma manhã ensolarada.
Por dentro das paredes
Há 11 anos
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Buraquinhos quentinhos